segunda-feira, 26 de novembro de 2007


Filmes trazem realidades e causam polêmicas
Cenários adversos quando midiatizados pressionam o poder público

Fabiano Casaroti

O cinema brasileiro viveu no ultimo mês mais um momento de glória. O lançamento do filme Tropa de Elite superou expectativas e ainda tende abater o recorde de mais visto em 2007. Nele é mostrada uma crítica à violência de policiais que abusam da autoridade para impor respeito e se auto- beneficiarem, além da realidade brasileira do tráfico de drogas. Esse cenário de tráfico, pobreza, violência espetacularizada, perda de valores humanos e éticos, junção de pobres e ricos que geram dicotomias sociais preconceituosas ao ser editado e levado às telas brasileiras ocasiona divergências de opiniões e também tende a levar o governo a pensar em mudanças nas políticas públicas a curto e longo prazo.
Nesse sentido das políticas públicas a coerção sobre o governo que o filme promove é um dos ângulos que se pode vislumbrar a partir de sua seqüência, como afirma a socióloga Cláudia Benedetti. Ela vai além, comentando que com isso o filme sugere: "urbanização das favelas, saneamento básico, luz elétrica, escola pública de qualidade, creches, postos de saúde e tudo o que sabemos que faz parte dos equipamentos mínimos para que essa população tenha qualidade de vida. Isso é 0 que 0 governo deveria fazer e não faz, pois agir assim seria retirar essa população de seu lugar marginalizado e descontentar todos aqueles que ganham muito dinheiro com a exploração da miséria, dos traficantes às ONGs".
O filme virou febre nacional, pois mostra uma realidade que a maioria da sociedade não está acostumada a conviver. Sabemos no Brasil, principalmente os grandes centros, o índice de criminalidade é alto, porém não está presente no dia adia da população, e quando a brutalidade é refletida nas telas causa um choque, pois se sabe que a situação apresentada, na realidade pode ser pior.
A vantagem do cinema é que faz chegar ao conhecimento de todos, os problemas sociais que seriam impossíveis entendermos, e mostra aos governos como está a situação do seu povo, principalmente nas favelas e periferias, além de apontar a crueldade e desonestidade dentro de instituições como, por exemplo, a policia.
A sociedade a partir de agora deve cobrar de seus governantes políticas públicas para urbanizar as favelas. São muito comuns em discursos políticos promessas de melhorar a saúde, a educação, a segurança, etc, mas tudo fica na teoria. Para acabar com a problemática nas periferias deve haver um investimento.
A rápida aceitação pelos telespectadores mostra que o filme conseguiu agradar a muitos, isso tem haver com o estilo intimista de produção, próxima ao cenário hollywoodiano, bem como com a sua "super-produção", em relação a investimento, de acordo com o diretor José Padilha o valor foi alçado em US$l milhão. "É por isso que vemos desde os mais conservadores aos mais progressistas, dos humanistas aos defensores da pena de morte, do garoto rico ao menino pobre, gostando do filme, assistindo-o diversas vezes, assumindo seus chavões. Defendendo hora a atitude do BOPE, hora a atitude dos traficantes", esclarece a socióloga. Para ela, a rápida divulgação e recepção popular foram auxiliadas pela pirataria.
Nas telas o filme mostra diversos problemas sociais, problemas que, em boa parte, são resultantes de uma estrutura social desigual. "Estamos inseridos em uma sociedade que destitui boa parte da população de parcela da riqueza produzida pelo País, esses indivíduos apartados, marginalizados formam a população pobre e miserável. Entre eles estão tanto os moradores da favela quanto os policiais, representantes do governo, que são (mal) pagos para reprimí-Ios", pontua a socióloga.

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